Hoje no Brasil as “melhores cabeças” estão no serviço público. O serviço público por sua vez não aproveita esta mão de obra qualificada que possui.
O sistema de contratação de mão de obra pública passa necessariamente pelo concurso público, que obedece a uma série de burocracias necessárias para dar transparência e lisura ao procedimento de contratação pelo Poder Público.
A promessa de estabilidade financeira e bons salários – em regra o concurso público paga melhor que a iniciativa privada – faz com que milhões de pessoas todos os anos se preparem para disputar uma vaga, almejando a tão sonhada vaga no serviço público.
Dependendo do concurso, o candidato se prepara por mais de uma década até estar em condições reais de passar dentro do número de vagas previsto em edital, mas uma coisa é certa, a imensa maioria daqueles que passam num concurso público dedicam um tempo de sua vida para estudar exclusivamente para isso, abdicando de tudo e de todos, até que o esforço finalmente seja recompensado.
Com esse crivo tão difícil, não seria errado afirmar que hoje, as “melhores cabeças” estão dentro do serviço público, mas então, como aproveitá-las melhor?
Sem entrar no mérito se vale a pena ter tanta gente boa para mover a máquina pública ou se essas pessoas poderiam trazer mais benefícios para sociedade na iniciativa privada, certo é que o Estado pode promover o progresso e o avanço do país, caso seus órgãos sejam atuantes e orientem a sociedade num bom caminho.
Ocorre que muitas vezes o sistema não coloca nos mais altos cargos dessas instituições um servidor público de carreira, mas sim o famigerado comissionado, indicado por alguém importante, ou por algum partido político que controle de certa forma aquela pasta ou aquele órgão público.
Ainda que este comissionado seja tecnicamente competente para o cargo, o fato de ser uma pessoa estranha ao órgão, é como se ele caísse de paraquedas no mais alto cargo dentro daquela repartição.
Normalmente é ele quem norteará o rumo daquele órgão público pelos próximos anos, e isso cria um clima de desprestígio entre os servidores de carreira, indo totalmente contra o espírito da meritocracia.
Será que dentre os funcionários concursados daquele mesmo órgão não haveria alguém bom o suficiente para ocupar o mais alto cargo da Instituição? Com certeza sim, e isso traria um sentimento aos servidores de que eles também poderiam ocupar aquele cargo um dia, o que traria incentivo a todos, contribuindo não só para harmonia do órgão, mas também um aumento da produtividade, muito diferente do que normalmente ocorre quando um comissionado é colocado no mais alto cargo diretivo daquela instituição pública.
Fazendo isso o serviço público só teria a ganhar, já que esses servidores são altamente preparados e possuem condições de conduzir com maestria os órgãos públicos, já que estão integrados ao sistema e conhecem a rotina do órgão público no qual trabalham.
Isso traria inclusive mais autonomia e independência a esses órgãos, que ficariam livres de intervenções externas como as de partidos políticos, por exemplo, cujas diretrizes podem estar ligadas a ideologias que não necessariamente representem as da população.
Colocar um servidor de carreira na direção do órgão público traz motivação para daquele que dedica sua vida a servir ao público, o que não significa, necessariamente, um melhor salário, mas sim algo que vale muito mais, o reconhecimento pelo serviço prestado.
Então já que as melhores cabeças estão dentro do serviço público, por que não as aproveitar melhor?
Artigo escrito por Leandro Provenzano para o Correio do Estado